21 de fevereiro de 2012

Posição Aerodinâmica no Triatlo - Os Avanços

Esta é a posição habitual dos ciclistas em etapas de contra-relógio. Na verdade, não é uma simples mudança de posição na bicicleta, em relação à posição adoptada noutras etapas de longo curso, mas todo o equipamento do ciclista e a própria bicicleta apresentam inúmeras diferenças. Todas com vista a reduzir a força de arrasto do conjunto homem-máquina e consequentemente maximizar a velocidade. Então porque é que não usam estas bicicletas em todas as etapas? A resposta é simples. Porque o regulamento  da UCI não o permite. Na verdade, estas bicicletas também não seriam a melhor opção para subir uma montanha, fazer um percurso sinuoso ou andar em pelotão, sobretudo por uma questão de segurança.

Fonte: bicycle.net
Mas, é sobre uma dessas diferenças na bicicleta, apenas, que hoje aqui escrevo: o guiador, em particular os avanços. Estes permitem apoiar os braços de tal forma que obrigam o tronco a ficar próximo da posição horizontal e, por outro lado, quando visto da frente da bicicleta, os braços ficam numa posição mais fechada, fazendo com que a parte do corpo mais larga passe a ser a zona dos ombros e/ou da anca, contribuindo para uma melhor aerodinâmica. Na foto, David Zabriskie numa posição aerodinâmica exemplar, antebraços paralelos à estrada e paralelos entre si, cotovelos próximos, braços perpendiculares aos antebraços, costas praticamente na horizontal.

E porquê no triatlo?
À semelhança de uma etapa de ciclismo em contra-relógio, nas provas de triatlo longo (Ironman e Half-Ironman) os atletas circulam isoladamente, pois não é permitido "andar na roda", isto é, tirar partido do efeito de cone de ar de outro atleta. Nestas provas, é permitido o uso de bicicletas do tipo contra-relógio. Na verdade, no mercado de bicicletas, estas são normalmente designadas como Time-Trial/Triathlon. Para os atletas com aspirações de atingirem um bom lugar, todos os detalhes contam, pelo que a opção de usarem uma bicicleta deste tipo é fundamental.

Triatlo Olímpico, Sprint e Super-Sprint
Em Portugal, nas provas disputadas nestas distâncias, salvo raríssimas excepções, é permitido "andar na roda". O regulamento técnico de triatlo da FTP não é tão restrito quanto à geometria da bicicleta quanto o regulamento de ciclismo da UCI, sendo permitido o uso de avanços no guiador nestas provas. No entanto, estes não podem ser do mesmo tipo das bicicletas de contra-relógio e têm que obedecer ao especificado na alínea g), do 1º parágrafo, do artigo 30º, que passo a citar:

- "Os avanços de guiador serão permitidos se não excederem 15cm além do eixo da roda da frente, se não ultrapassarem a linha imaginária que une as alavancas dos travões e as suas extremidades estiverem ligadas entre si".

Aqui não há consenso entre os atletas. Uns usam, outros não...

Nestas provas os percursos são, normalmente, mais sinuosos, por vezes com várias inversões a 180 graus, e quando inserido num grupo, torna-se perigoso andar com os braços apoiados nos avanços, pois o controle sobre a bicicleta diminui e as mãos estão mais longe das alavancas dos travões. De referir também, que os avanços permitidos para estas provas não podem ter as alavancas de mudança de velocidade incorporadas, ao contrário das bicicletas de contra-relógio. Por tudo isto e com o peso extra na bicicleta que representam, muitos atletas optam por não usar.

Porém, de acordo com a minha experiência, continuo a optar por usar. O peso extra, cerca de 350 gramas, é irrelevante face ao que ainda tenho para evoluir nas pernas... A possibilidade de descansar os braços após o segmento de natação, constitui também um aspecto muito positivo.

Os meus avanços
Afinal, é sobre a minha experiência que este blogue se trata... Optei por colocar uns avanços de guiador na minha bicicleta convencional de estrada do tipo clip-on, isto é, que se montam directamente sobre o guiador original. Existem inúmeras opções no mercado, ao nível dos materiais, geometria, tipo de aperto, com ou sem afinação, mas, poucos cumprem o regulamento da FTP que acima referi. Os que comprei (Vision Carbon Pro Clip-On J-Bend 270mm) também não cumpriam... Ultrapassavam as alavancas dos travões e não eram unidos nas extremidades. Apenas os comprei por se tratar de uma promoção de 70%! Assim, tive que proceder a um retrabalho dos mesmos, cortando-os à medida e fazendo uma união com fita adesiva na extremidade. Até à data, têm passado com sucesso nas verificações técnicas.

As verificações técnicas no triatlo
Chamo mesmo a atenção para o regulamento técnico de triatlo, no que diz respeito aos avanços de guiador, pois os árbitros são instruídos no sentido de terem especial atenção a este pormenor durante as verificações técnicas. E digo-o por experiência própria...

Os avanços que me recuaram
Antes de proceder ao retrabalho dos avanços, ainda arrisquei uma participação num triatlo...

Estava já na praia, junto à linha de partida, com o fato isotérmico vestido, apenas a alguns minutos da partida do triatlo de Quarteira, a tentar descontrair para iniciar a prova com calma... Quando, de repente, um árbitro vem ter comigo a dizer que tenho que ir urgentemente corrigir a posição dos avanços, caso contrário não poderia iniciar a prova! O objectivo de iniciar a prova com calma já tinha ido "por água abaixo"... De facto, minutos antes tinha ficado com a sensação de ter ouvido ou meu nome nos altifalantes, mas de imediato pensei -"que disparate, não pode ser". Enquanto corria desesperadamente em direcção ao parque de transição, passava-me pela cabeça como seria possível, depois de ter feito 600km até ao Algarve com a família, acabar, ou não começar, desta forma, pois eu sabia que os avanços não tinham afinação, não tinha ferramentas ali para os retirar e não teria tempo para as tentar arranjar... O árbitro na primeira verificação talvez não tenha reparado, pelo facto de ter o fato sobre o guiador... Perante isto, o árbitro teve um comportamento extraordinário! Mandou-me de imediato para a partida e, ele próprio, se encarregou de pegar na bicicleta e proceder à remoção dos avanços durante o meu segmento de natação. Quando lá cheguei , a bicicleta estava no sítio certo, pronta para iniciar o segmento de ciclismo. Pena não saber o nome do árbitro mas, mais uma vez, muito obrigado!

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