1 de novembro de 2012

9ª Maratona do Porto

Manhã fria esta que se fez sentir no domingo, 28 de Outubro, na cidade do Porto. Esperei até ao último instante para tirar a roupa e ficar só com o traje de corrida. Coloquei a roupa no saco fornecido pela organização, entreguei-o na carrinha de recolha e corri até à linha de partida em jeito de aquecimento. Não que estivesse muito preocupado com o aquecimento para a prova, mas sim porque tinha frio... Na rua Júlio Dinis já se sentiam rajadas de vento anunciando que o cenário na marginal, onde se desenrolaria a maior parte da prova, seria bem difícil.

Um minuto depois do tiro de partida, tal era a multidão à minha frente, começava então a correr cruzando a linha de partida sem esquecer de pressionar o botão start do meu relógio/cronómetro de 10 Euros, para uma esperada longa contagem. Quando parto para uma maratona, a sensação é que vou fazer uma viagem, uma aventura... Muitas coisas podem acontecer. Muitas sensações estariam para vir. Por esta altura, o objectivo era chegar ao fim, bem, sem sofrimento excessivo, sem percalços...

Ao km 15... 1h04m... A Maratona começa aqui.
Os primeiros 7 km passam-se muito rapidamente, pois o percurso é praticamente sempre a descer, com excepção dos primeiros cerca de 500 metros iniciais a subir. Estava claramente a um ritmo impossível de manter numa maratona. Mas, porquê ter medo? Era a descer e deixei-me ir... Ao km 10, tinha já deixado para trás o balão das 3h15m e seguia a cerca de 5 minutos do balão das 3h00m.

Pouco depois, na rotunda do Castelo do Queijo, despedimo-nos dos corredores da Family Race de 15km que seguem para a meta pela Av. da Boavista. Aí a corrida fica mais silenciosa. Sinto que a aventura começa ali. É como se acabasse de passar o Cabo da Boa Esperança. Só alguns o ousam fazer. Mas este é fácil de ultrapassar, não obriga a uma trajectória especial. É só seguir as indicações. As dificuldades hão-de vir mais lá para a frente, sei disso, mas acredito que vou ser capaz.

Ao km 21... 1h32... "Mais 2 séries de
10k e já está!"
Por esta altura tento não pensar na distância que ainda tenho pela frente e mentalizo-me que, afinal, uma maratona são apenas 4 séries de 10k e mais 2k de passeio da fama. Eu sabia que era capaz de fazer 10k sem dificuldade. Agora era só repetir 4 vezes! A primeira série já estava concluída e a segunda desenrolava-se a bom ritmo. Apesar do vento forte contra, consegui manter um bom ritmo. Sentia-me bem e passei a meia-maratona com 1h32m e mais uns segundos no relógio. Estava em plena 3ª série e com a moral em alta. O percurso passava então pela ribeira do Porto com muito público a aplaudir.

O km 30 já não apareceu com a mesma facilidade do que o 10 e o 20... A partir daqui começo a ganhar respeito à Maratona. Afinal a 4ª série não vai ser fácil, penso para mim próprio. Mas, era a última! Apesar de tudo, tinha chegado até aqui a um ritmo que não estava à espera. O relógio marcava 2h13m e qualquer coisa, o que dava um ritmo médio de 4'30''/km.

Agora já não era capaz de manter o mesmo optimismo das "apenas" 4 séries. Começo a ficar confuso e ao passar o km 32, dou por mim a pensar que ainda faltam 10k... O ritmo já não é o mesmo. As pernas estão pesadas. Os músculos empedernidos. A passada cada vez mais curta.Tinha faltado ao respeito à Maratona e ela agora estava a cobrar-me. Percebi que ia ser difícil.

Ao km 40... Só mais um esforço!
Mas é ao km 35 que um muro de betão se coloca à minha frente. Estava a pagar muito caro o entusiasmo dos primeiros 2 terços da corrida. De um estado de ânimo forte e optimista passei rapidamente a um estado de espírito de incapacidade de acabar a prova. Agora, a única forma que tinha de o fazer, era empurrando o muro de betão com todas as minhas forças, com todos os meus músculos, com determinação e perseverança. Contei todos os metros que percorri lutando para me manter a correr.

Ao km 37, sou novamente alcançado pelo balão das 3h15m, onde seguia um pequeno pelotão liderado pela Manuela Machado. Tentei integrar-me neste grupo, que outrora me pareceu lento, mas já não dava. O meu ritmo agora era mais lento...

E a estrada foi passando pelos meus pés... Até que no último abastecimento antes da meta, ao km 40, parei para tentar recompor a energia. Mas depois de mais de 3 horas a correr, as pernas já não sabem estar paradas ou a caminhar. Correr é a única solução para por fim ao sofrimento. Já com a meta à vista e algumas dezenas de pessoas a apoiar, ganho nova determinação para chegar à meta. Não conseguia passar daquele ritmo que me parecia lento, mas mantive-me sempre a correr nos últimos 1500 metros a subir a Av. da Boavista, que pareciam nunca mais acabar.

42,195 km!
E, finalmente, a passadeira vermelha! O pórtico! E... stop! 3h18m03s.

Fica a sensação que posso fazer melhor numa próxima oportunidade. Talvez apenas com uma melhor gestão do esforço. Talvez com mais respeito pela Maratona. Talvez com menos vento. Talvez...

Durante aqueles últimos quilómetros, só queria acabar com aquilo o mais rapidamente possível e não voltar a pensar em corridas. Agora que escrevo estas linhas, já só penso quando será a próxima! Quero voltar a sentir!

Afinal, definir um objectivo, lutar e sofrer para o atingir e consegui-lo, é das melhores sensações que se pode ter na vida.

Até breve!





4 comentários:

  1. Grande tempo, Pedro! Excelente. A maratona é um verdadeiro desafio, na sua 1ª tentativa. Mas depois, fica de tal maneira entranhada que só desejamos fazer mais. Pagaste caro a ousadia, mas os danos foram apenas momentâneos. O balanço final é fantástico.

    Abraço.

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  2. Pedro,

    É tal a emoção impressa nestas linhas, que fazem, até aos mais resistentes, (como é o meu caso)sentir vontade de enfrentar o desafio e assim beber do mesmo sentimento de vitória e superação!

    Parabéns e Obrigada.

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  3. Pedro, excelente crónica, grande tempo....muitos parabéns!!!!

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  4. Excelente conquita! Parabéns!
    Gostei de ler a crónica!

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